Mielopatia Espondilótica Cervical
A mielopatia espondilótica cervical é a forma mais comum de mielopatia adquirida não traumática. Ela resulta da compressão da medula espinal devido a alterações degenerativas na coluna cervical. Embora a mielopatia possa ser causada por traumas ou outras condições, a espondilose refere-se especificamente ao desgaste progressivo das articulações entre as vértebras.
Causas e Fatores de Risco
A compressão da medula pode ocorrer devido a diversas alterações degenerativas, tais como:
- Hipertrofia das facetas articulares;
- Espessamento do ligamento amarelo;
- Formação de osteófitos (bicos de papagaio) na borda posterior dos corpos vertebrais;
- Calcificação do ligamento longitudinal posterior;
- Hérnias discais volumosas.
Essas alterações levam à redução do espaço do canal vertebral, causando compressão medular. Além disso, alterações microvasculares, como redução do suprimento sanguíneo à medula, podem agravar o quadro clínico. A mielopatia espondilótica cervical pode estar associada a fatores genéticos, atividades que sobrecarregam a coluna cervical e ao tabagismo, um importante fator de risco para diversas doenças.
Sintomas
Os sintomas variam conforme a área da medula afetada e o grau de compressão. Os mais comuns incluem:
- Dormência e formigamento nas mãos;
- Perda da destreza manual (dificuldade para realizar movimentos finos, como abotoar uma camisa);
- Fraqueza nos membros superiores;
- Rigidez nas pernas, resultando em uma marcha robótica;
- Desequilíbrio ao caminhar;
- Urgência miccional.
Embora a dor cervical possa estar presente, ela não é o principal sintoma da doença. A progressão dos sintomas varia de paciente para paciente, podendo ser lenta e gradual ou ocorrer de maneira abrupta, exigindo intervenção cirúrgica imediata.
Diagnóstico
O diagnóstico clínico é complementado por exames de imagem, sendo a ressonância magnética (RM) o método mais eficaz. Esse exame permite identificar:
- Alterações estruturais da coluna cervical;
- Compressão medular e sua localização;
- Lesões na medula espinal (como edema ou atrofia).
Na RM, um sinal hiperintenso na medula pode indicar mielomalácea, uma lesão resultante de necrose isquêmica ou hemorrágica. No entanto, nem todos os pacientes com alterações na RM apresentam sintomas. Estima-se que cerca de 8% dos pacientes assintomáticos desenvolvam sintomas neurológicos em um ano, e aproximadamente 23% em quatro anos.
Tratamento
O prognóstico depende de três fatores principais:
- Grau de comprometimento neurológico;
- Tempo de evolução da doença;
- Idade do paciente, sendo a evolução pior em indivíduos mais velhos.
Quando o diagnóstico é confirmado, a cirurgia é geralmente indicada para descomprimir a medula e prevenir a progressão dos sintomas. O procedimento pode ser realizado por diferentes vias de acesso:
- Anterior: Discectomia, corpectomia e artrodese anterior;
- Posterior: Laminectomia, laminoplastia e/ou artrodese posterior;
- Combinada: Quando necessário, utiliza-se uma abordagem mista.
A escolha da técnica cirúrgica leva em conta fatores como a presença de lordose cervical, calcificação de ligamentos, localização da compressão e instabilidade da coluna.
Conclusão
A mielopatia espondilótica cervical é uma condição degenerativa progressiva que pode afetar significativamente a qualidade de vida do paciente. O diagnóstico precoce e a indicação cirúrgica oportuna são essenciais para evitar

FIGURA 1 (Fonte: adaptada de Tracy JA & Bartleson JD 2010)
Referências
Mielopatia cervical espondilótica – tratamento com laminoplastia e artrodese com sistema de fixação de massa lateral – Pimenta Junior WE, Daher S, Souza Junior ZA, Cardoso ALP, Moraes FB – COLUNA/COLUMNA. 2008;7(1):17-22
Tratado de Neurocirugia 1º Edição, Editora Manole, Editor Mario G Siqueira. 2015
Tracy JA & Bartleson JD. Cervical Spondylotic Myelopathy. The Neurologist 16(3):176-87. 2010